Entenda os 4 pilares do capitalismo consciente e veja como organizações estão aplicando esse movimento.
O capitalismo consciente emergiu como uma resposta crítica às limitações do modelo tradicional de maximização de lucros. Defendido por autores como John Mackey e Raj Sisodia (2013), esse movimento propõe que as empresas devem existir não apenas para gerar retorno financeiro, mas também para criar impacto positivo duradouro na sociedade, no meio ambiente e em todas as partes interessadas — os chamados stakeholders.
No Brasil, essa discussão ganhou força a partir de movimentos empresariais alinhados ao Sistema B e à busca por valor compartilhado, sustentando a ideia de que organizações precisam de um propósito maior para além do lucro. Como destaca Chaves (2014), a empresa do século XXI deve ser compreendida como instituição social, capaz de harmonizar interesses privados e públicos.
Neste artigo, exploraremos em profundidade o que é capitalismo consciente, seus 4 pilares fundamentais, a presença desse movimento no Brasil e exemplos práticos de empresas que adotam o capitalismo consciente.
O que é Capitalismo Consciente?
O conceito nasceu com Mackey e Sisodia, fundadores do Conscious Capitalism Movement. Para eles, o capitalismo perdeu credibilidade ao ser reduzido a uma lógica exclusiva de maximização de lucro — herança da visão de Milton Friedman e da Escola de Chicago.
“O mito da maximização de lucros como único objetivo manchou a reputação do capitalismo” (Mackey & Sisodia, 2013, p. 19-22).
A proposta é resgatar o caráter transformador do capitalismo por meio de uma gestão ética, responsável e voltada ao bem comum. Esse redimensionamento conecta-se também às teorias de stakeholders (Freeman, 2010), de valor compartilhado (Porter & Kramer, 2011) e à função social da empresa reconhecida na Constituição brasileira.
Os 4 pilares do Capitalismo Consciente
A estrutura do movimento se organiza em quatro fundamentos centrais, conhecidos como os 4 pilares do capitalismo consciente:
Propósito maior
O propósito é a razão de existir da empresa. Ele vai além do lucro e busca gerar valor para a sociedade. Uma organização orientada por propósito conecta colaboradores, clientes e parceiros em torno de um ideal transformador.
Exemplo: empresas do Sistema B no Brasil utilizam seu propósito como guia estratégico, assegurando impacto socioambiental positivo.
Orientação para stakeholders
Diferente da lógica centrada apenas em acionistas (shareholders), o capitalismo consciente considera todas as partes interessadas: clientes, colaboradores, fornecedores, comunidade e meio ambiente. Como afirma Freeman (2010), “os negócios existem para criar valor para todos os stakeholders, e não apenas para acionistas”.
Liderança consciente
A liderança é o motor da cultura organizacional. Líderes conscientes são orientados por valores, coerência ética e visão de longo prazo, cultivando confiança e engajamento.
Segundo Sisodia, Eckschmidt e Henry (2020), a liderança consciente atua como catalisadora da transformação cultural, promovendo decisões alinhadas ao bem comum.
Cultura e valores conscientes
A cultura organizacional deve sustentar práticas éticas, transparentes e inclusivas. Isso significa desenvolver ambientes de trabalho justos, promover diversidade, adotar governança responsável e buscar constantemente impacto positivo.
O artigo de Ramos & Domingues (2021) sobre cultura organizacional reforça que valores conscientes fortalecem a identidade corporativa e reduzem a distância entre discurso e prática.
Capitalismo Consciente no Brasil
O Brasil se tornou um terreno fértil para o capitalismo consciente por três motivos principais:
- Movimentos institucionais: o Sistema B Brasil e organizações como o Conscious Capitalism Brasil fomentam capacitações, encontros e certificações para empresas.
- Contexto regulatório: a Constituição de 1988 consagrou a função social da empresa, estabelecendo que a livre iniciativa deve atender ao bem-estar coletivo.
- Cultura empresarial emergente: negócios de impacto social, startups de sustentabilidade e grandes empresas vêm redesenhando práticas de governança, ESG e inovação sustentável.
Um exemplo concreto é a Bolsa de Valores Socioambientais (BVSA), criada pela B3 em 2003, reconhecida pela ONU como modelo de investimento social. Iniciativas como essa mostram que o capitalismo consciente não é apenas discurso, mas prática empresarial integrada à realidade brasileira.
Empresas de Capitalismo Consciente
Diversas empresas brasileiras têm se posicionado como referências no capitalismo consciente, seja por meio de certificações, seja por suas práticas transparentes de impacto social e ambiental.
Exemplos:
- Natura: pioneira no uso de bioingredientes da Amazônia, certificada como empresa B.
- Movida: locadora de veículos com metas ambiciosas de redução de emissões e investimento em compensações de carbono.
- Okena: empresa de soluções ambientais especializada no tratamento e destinação de efluentes e lodos, com foco em gestão sustentável de resíduos. Certificada pelo Sistema B, a Okena integra o movimento global do capitalismo consciente, alinhando sua atuação ao propósito maior de gerar impacto socioambiental positivo. Além de oferecer serviços técnicos de alta eficiência, a organização neutraliza 100% das suas emissões de carbono por meio do programa CarbonFree, em parceria com a Iniciativa Verde.
Essa postura reforça o compromisso da Okena em ser uma empresa que cria valor compartilhado, promovendo práticas de sustentabilidade de forma transparente e alinhada aos 4 pilares do capitalismo consciente.
Críticas e desafios
Apesar dos avanços, o capitalismo consciente enfrenta críticas relacionadas a:
- Greenwashing: risco de empresas adotarem o discurso sem efetivar práticas reais.
- Mensuração de impacto: dificuldade em traduzir valores intangíveis em métricas objetivas.
- Pressão de curto prazo: ainda predominam mercados financeiros que valorizam resultados trimestrais em detrimento da sustentabilidade de longo prazo.
Esses desafios, entretanto, são justamente o espaço de inovação para organizações comprometidas com a mudança.
Considerações finais
O capitalismo consciente se apresenta como um movimento de humanização das empresas, capaz de realinhar o capitalismo às suas raízes éticas e sociais. Ele propõe que as organizações do século XXI devem:
- adotar um propósito maior;
- respeitar e integrar os stakeholders;
- cultivar liderança consciente;
- e sustentar uma cultura baseada em valores.
No Brasil, esse movimento já ganha corpo em iniciativas práticas e no fortalecimento de marcos institucionais. O futuro aponta para um modelo de negócios em que lucro e propósito caminham juntos, construindo empresas mais resilientes, humanas e alinhadas ao bem comum.
Referências
- CHAVES, Vinícius Figueiredo. A Empresa do Século XXI: Criando Valor Compartilhado em Tempos de um Capitalismo Consciente. Revista Argumentum, UNIMAR, 2014.
- FREEMAN, Edward R. Strategic Management: A Stakeholder Approach. Cambridge University Press, 2010.
- MACKEY, John; SISODIA, Raj. Conscious Capitalism. Harvard Business Press, 2013.
- PORTER, Michael; KRAMER, Mark. Creating Shared Value. Harvard Business Review, 2011.
- RAMOS, Aline; DOMINGUES, Juliana. O Capitalismo Consciente como movimento para humanizar a cultura organizacional. Revista Gestão, 2021.
- SISODIA, Raj; ECKSCHMIDT, Thomas; HENRY, Timothy. Capitalismo Consciente – Guia Prático. HSM, 2020.